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CONTORNO
"Um das sugestões de busca que surgem quando digitamos “contorno” no Google é “diferença entre retorno e contorno”. Achei curioso que, juntas, essas palavras possuem um significado, uma dúvida comum a muita gente, mas separadas - “diferença”, “retorno” e “contorno” - dizem muito sobre o que vocês irão ver-ler-absorver no folhear destas páginas. Não há aqui um assunto comum, um grande guarda-chuva, no qual vamos “enfiando” coisas embaixo pra que façam sentido. Não, não optamos por esse caminho. Quando nos encontramos, já no primeiro dia, meu pedido foi pra que cada uma das pessoas que participaram do Grupo de Estudos em Processos Artísticos, Políticos e Curatoriais, no segundo semestre de 2021, trouxesse suas inquietações, seus problemas, suas pesquisas atuais, pra compartilhar com o grupo no intuito de criar debates que possibilitassem o desenvolvimento de uma publicação. Esse caminho tortuoso é também bem molhado, não há guarda-chuva que suporte a ventania.
Durante a preparação dos encontros, achei que seria importante falar sobre publicação de artistas, por isso, convidei três pessoas atuantes no mercado editorial pra colaborar com o debate, a Gabi Bresola, a Regina Melim e o Pedro Franz, que falaram de suas produções e contribuíram com a elaboração deste livro.
Ao longo do semestre, nos deparamos com problemas de ordens diversas e resolvemos criar um “Grupo de Desorientação”, uma espécie de suporte pra quem precisava conversar sobre seus processos de criação e edição. Seguimos assim nosso caminho, contornando muitos assuntos e tentando compreender como eles poderiam coexistir; contornando problemas técnicos e subjetivos; contornando mesmo nossas existências, porque somos, e aqui entra uma das palavras-chaves do Google, diferentes, muito diferentes mesmo.
Assim, descobrimos que esse contorno contorna nosso interesse pela arte, pelo modo como podemos construir espaços nunca antes habitados, tornando-os lugares ocupados por afetos. E nessa divagação pela escrita e pela memória, me lembrei do Marcelo Fialho falando, em um dos nossos encontros, sobre os afetos alegres e tristes, e em como eles podem aumentar ou diminuir nossa capacidade de agir - algo que podemos ver com profundidade em Espinosa - e isso me faz acreditar que CONTORNO pode, sim, aumentar nossa potência de sentir, porque há aqui afecções de muitos corpos.
Tem algo, ainda, que percebi e que vocês irão ver se folhearem rapidamente este livro (rápido mesmo, produzindo vento): o marrom como cor predominante. Não foi algo acordado, aconteceu. Não foi combinado, mas nós também não combinamos de viver num Brasil enterrado na lama pela falta de políticas públicas. Durante o período em que estes trabalhos foram feitos, vivemos o rompimento da barragem da Lagoa da Conceição, o segundo ano da pandemia, o desgaste físico e emocional, o medo. Mas o marrom, que é a cor da terra, pode aqui significar respiro, um susto de esperança, um renascer." Kamilla Nunes
Autores|Artistas:
Andrea V Zanella
Juliana Hoffmann
Lucas Reitz
Luciana Petrelli
Lucy Montardo
Maíra Spanghero
Olinda Evangelista
Ruchita
Sandra Meyer
Sandro Clemes
Simone Bobsin
Vera Torres
Organização:
Kamilla Nunes
Baixe aqui:
sobre o grupo
Iniciado em 2018, o G.E. foi criado para o compartilhamento de práticas artísticas, políticas e curatoriais, produzidas entre os anos 1960 e os dias atuais. São estudados artistas das mais variadas latitudes e que lidam com variadas linguagens. Os encontros são realizados a partir de conversas polifônicas, com abordagens teóricas, críticas e poéticas, de obras/artistas que são imprescindíveis para a construção de uma história da arte no Brasil. O grupo, organizado por Kamilla Nunes, é aberto, diverso e dinâmico, por isso, sua configuração muda a cada módulo. Em 2019, foi realizada a exposição coletiva “Toda paixão beira o caos, a do colecionador beira o caos da memória”, no Memorial Meyer Filho e, em 2020, a exposição virtual “AGORA” [https://kamillanunes.com/agora]
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